quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Alguns detalhes....

Quando eu escrevo, parece que as ideias tomam forma, as preocupações ganham solução, o peso dos pensamentos diminuem. Escrever me ajuda a ter uma nova perspectiva de mim, dos problemas, da vida, dos momentos que vivi. E hoje, eu vou aliviar um pouco, e contar uma das histórias de amor mais linda, que eu tenho o prazer e privilégio de viver.

Tudo começou muito antes de eu pensar em nascer, mas acho que já estava aguardando essa história acontecer, ansiosamente. Calma, eu vou explicar. Vamos começar, por onde eu me lembro.

Meus pais, Sebastião e Marinês, foram amigos por alguns anos antes de começarem a namorar, quem se interessou primeiro foi meu pai, e minha mãe demorou a assumir que gostava dele também. Eu não vou falar muitos detalhes sobre esse período, porque não vivi eles, e posso não lembrar exatamente como eles me contaram. Mas, vou contar algumas coisas, como por exemplo, minha mãe conta que a primeira vez que meu pai disse pra ela que a amava, ela riu, bem alto na cara dele. Ela ainda não acreditava que alguém poderia amá-la.

Meus pais se casaram em 1983, e se voce já ouvi dizer "os opostos se atraem, mas são os iguais que se entendem", é porque você não conheceu eles. Meu pai era calmo, falava baixo, era um homem introvertido, só falava quando era preciso. Minha mãe era um furacão, ela gostava de falar com todos, ser amiga de todos, era extremamente talentosa, gostava de dançar, ria alto. Mas de uma forma incrível, os dois combinavam perfeitamente, tinham uma sincronia única. Minha mãe contava que meu pai era tão calado, que minha avó perguntou pra ela como ela conseguia namorar ele, se só ela falava. E ele gostava de ouvir.

Vou falar agora um pouquinho mais deles, meu pai, que homem! Eu sou apaixonada por ele! Assim como as mulheres da sua vida, minha mãe, eu, minhas irmãs, e as netas. Ele sempre foi mimado por todas nós. Ele gostava de cantar, gostava de ouvir música, um dos seus cantores favoritos era Roberto Carlos, e passou a paixão por música para todos os filhos. Ele nos ensinou muito mais do que amar a música, ele era honesto e íntegro em tudo que fazia, sempre foi um homem extremamente inteligente. Tudo que eu precisava saber, mesmo que fosse algo que ele não dominasse, eu perguntava pra ele, e quando ele não sabia, ele pesquisava, e se informava sobre o assunto, pra poder me ajudar.

Tinha uma paciência enorme, mas confesso que na hora de ensinar matemática.....ela teimava em sumir, hoje eu consigo rir, mas quando era mais nova tinha medo de errar, porque ele ia me perguntar como eu errei em algo tão simples. Isso é algo que eu vejo em todos nós, como filhos, como a gente se esforçava pra fazer tudo direito, pra deixar ele feliz, orgulhoso dos filhos.

Meu pai mudou muito com o passar dos anos, daquele cara introvertido que falava pouco, ele começou a ser mais brincalhão em casa, fazer piadas, hoje vejo que é dele que herdamos o humor negro. Uma história engraçada sobre isso, e eu vou falar sobre minha mãe. Em 2014, no final do ano eu fui demitida, e aproveitei que ganhei um dinheiro bom pra compra presentes para todos em casa, e pro meu pai comprei um tablet, que ele tava querendo já tinha um tempo. EU estava super animada, pulando de alegria que ia deixar ele feliz, e ansiosa pra saber a reação dele, quando ele viu, deu um tapinha nas minhas costas e disse obrigada. Ele tinha mudado, mas algumas coisas são dificies de mudar, ele ainda era um cara introvertido.

Minha mãe, como explicar o inexplicável, que mulher! Ela é o ponto central da nossa família, sempre foi. Eu sempre fui apaixonada por meu pai, sempre amei falar sobre ele, mas quando eu tenho que falar sobre ela, explicar como ela era, eu fico sem palavras. Como explicar alguém que era sol, lua, loucura, razão, frio, calor, vendaval, calmaria, era tudo em uma pessoa só?! Ela tinha um dom de fazer tudo melhor, tudo ficava melhor com ela. Ela sabia fazer artesaneto, e ensinou-nos fazer, apreciar e amar artesanato, cada um aprendeu alguma coisa diferente. Ela sabia cozinhar, e como eu sinto falta de chegar em casa e sentir o cheiro da comida dela. Todos que comiam em casa, saíam apaixonados, que mãos de fada ela tinha. Ela era linda, não era fã de maquiagem, mas sempre estava linda. Ela tinha um amor profundo por nós, e um amor e devoção pelo meu pai, que era lindo. O Chero e a Flor.

Eu consigo lembrar de tantos momentos em família ao escrever essas coisas. Minha mãe reclamando da cantoria sem fim do meu pai, porque quando ele queria aprender uma música/hino novo, ele ficava dias cantando. Todos nós na cozinha, cada um fazendo alguma coisa, meu pai reclamando que tinha que descascar abacaxi no trabalho, e em casa. Todas as reuniões familiares, as nossas viagens. 

Uma lembrança que veio não só a minha mente, mas de uma forma quase sincronizada, nos meus irmãos, foi das tardes de domingo, que nós sentávamos numa praça pra comer pão com mortadela, porque era o melhor que a gente tinha naqueles dias. E eu pensei em quantas vezes eles se sacrificaram e choraram por nós, pelo desejo de oferecer mais e coisas melhores. E hoje, eu choro ao lembrar desses momentos preciosos.

Eles se completavam de muitas formas. Ele vivia pra fazer ela feliz, ela vivia para estar ao lado dele. Eles me ensinaram acima de tudo o puro amor. Eu cresci num lar onde não havia brigas entre eles, não na nossa frente, quando a gente ficou mais velho, que as teimosias foram aumentando, as vezes eles tinham umas briguinhas, que eu nem posso chamar de brigar. 

Um ano e três meses, foi o tempo que eu levei pra escrever sobre essas coisas, eu tenho muito mais a falar sobre eles, mas acho que isso que escrevi foi o suficiente. 

Como eu falei, meu pai gostava muito de Roberto Carlos, e duas músicas deles tem sido especiais nestes últimos dias. Detalhes, eu quase não ouvi nenhuma música dele depois que meu pai faleceu, mas por algum motivo, essa música não saiu da minha cabeça nesta semana, eu consegui ver e ouvir meu pai cantando. 

"Não adianta nem tentar me esquecer
Durante muito tempo em sua vida
Eu vou viver
Detalhes tão pequenos de nós dois
São coisas muito grandes pra esquecer
E a toda hora vão estar presentes
Você vai ver"
E, uma música que o Roberto fez dedicando a sua esposa falecida, Maria Rita, e eu lembro que quando meu pai falou dessa música pra minha mãe, ele pediu pra essa ser a música deles, porque o que o Roberto Carlos escreveu a esposa falecida, ele tinha a felicidade de reconhecer e viver ao lado dela.
"Com você
Conheci a grandeza do amor
Com você
Vi que o sol tem mais luz e mais cor
Com você
Aprendi a sorrir e viver
Porque tudo o que eu sempre quis ter
Muito mais eu encontro em você
Com você
É que a vida pra mim tem valor
Com você
Não existe a tristeza e a dor
Com você
Vou além dos limites de um ser
À procura do que possa ter
De mais lindo pra te oferecer
Você é muito mais que a minha própria vida
É o sol e as estrelas do meu universo
Você é a canção mais bonita que eu canto
É a frase de amor mais linda do meu verso
Você, você é meu amor
Você, você é meu amor
Com você
Vou além dos limites de um ser
À procura do que possa ter
De mais lindo pra te oferecer
Você é muito mais que a minha própria vida
É o sol e as estrelas do meu universo
Você é a canção mais bonita que eu canto
É a frase de amor mais linda do meu verso
Você, você é meu amor
Você, você é meu amor"
Ela foi mais que a própria vida dele, foi mais que o grande amor da vida dele. Um ano e três meses sem ela, um ano sem ele. Mas uma certeza de que eles estão bem, felizes e juntos. Um amor eterno. Nem sempre somos capazes de reconhecer quantas coisas boas temos em nossa vida, em apreciar os momentos juntos, em viver as pessoas que amamos. Algumas vezes, precisamos perder para dar o devido valor. Hoje, eu posso afirmar, que eu sempre fui, e sempre serei grata por ter vivivo, amado, e ser filha deles. A dor de não tê-los mais aqui tão pertinho ainda é grande, mas hoje as lágrimas foram de alegria por viver esse amor. 

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